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QUAL TUA FUNÇÃO COMO PSICOPEDAGOGA? UMA VISÃO A PARTIR DA EXPERIÊNCIA


Nos últimos meses, tenho observado muitas postagens, nas redes sociais, de profissionais que buscam vender técnicas e ou materiais de alfabetização para o desenvolvimento de crianças portadoras de distúrbio, principalmente para autistas. Este fato desencadeou a necessidade de rever algumas teorias e relatar experiências, por mim vividas, durante 11 anos de atuação como psicopedagoga clínica. Dividir com outros profissionais como entendo que deve ser a função do psicopedagogo.

O QUE É PSICOPEDAGOGIA?

Psicopedagogia, segundo Edith Rubinstein (1987) é uma área de estudo que busca compreender o ser humano como aprendiz, suas habilidades, suas dificuldades, alguém que faz as suas escolhas e toma decisão em cada uma das etapas de sua vida.

Assim, entendo que atuar como psicopedagoga exige o domínio de conhecimentos sobre comportamentos, funcionamento do cérebro, organização familiar, cognição e afetividade, além de ter empatia, colocando-se no lugar do seu paciente, de sentir o que ele sente e entender como ele aprende.

Acredito que como psicopedagoga tem-se que realizar uma anamnese em detalhes, observando cada uma das reações frente as atividades, histórico de vida, contexto familiar, comorbidade de seus ascendentes, para então definir estratégias e focos para serem desenvolvidos individualmente.

Não se pode entender “psicopedagoga” como alguém que só atua na área da cognição escolar, mas alguém que entende como que a aprendizagem acontece em todos os âmbitos do desenvolvimento humano, desde o ato de se sentar, até o nível mais complexo de operações, leitura e interpretação.

EXPERIÊNCIA QUE DEMONSTRA A DIVERSIDADE DO ATENDIMENTO NOS DIFERENTES ASPECTOS DO “APRENDER”.


Como em geral acontece, recebi uma mãe acompanhada de um adolescente de 16 anos. A primeira imagem já permitia perceber que se tratava de alguém que possuía dificuldades motoras, pela sua forma de movimentar o corpo.

No decorrer da entrevista, a mãe relatou que o menino AB era portador de epilepsia e que desde dois meses sofria de crises clônicas focais, o que determinou lesões no cérebro. Salientou a mãe, que o menino só caminhou e falou aos cinco anos de idade. Também fui informada que atualmente ele cursava o supletivo de primeiro grau, mas que mesmo tendo se alfabetizado, não conseguia realizar interpretação e que, a nível de domínio de atividades diárias de sobrevivência apresentava muita dificuldade, como arrumar seu café, escolher a roupa, andar sozinho. Tarefas simples do dia a dia, ele não conseguia realizar.

Analisando todos os detalhes e realizando diversos instrumentos de diagnóstico, percebi que sempre (minha visão) primeiro temos que preparar o paciente para uma vida feliz, depois buscar a aprendizagem em conhecimentos teóricos.

Assim iniciei um trabalho de desenvolvimento do raciocínio lógico, memória, análise de dados, tudo através de jogos e atividades práticas. Em seguida comecei a construção de caminhos, plantas baixa da clínica, do quarto do menino, até chegar no mapa da cidade. Após muitas atividades de jogos no mapa, veio a localização da casa dele e da clínica, com o objetivo de traçar caminhos e uma rota que permitisse ele se movimentar sozinho. Fizemos muitos exercícios em ruas próximas até o momento em que, foi possível perceber que ele tinha realizado a aprendizagem do caminho, dos semáforos e entendido os cuidados que deveria ter. Então, com a mãe, de supervisora oculta, o menino realizou pela primeira vez, uma caminhada sozinho. Foi gratificante ver a realização dele.

Outro foco trabalhado, através de atendimento na casa do menino, foi desenvolver atividades de aprendizagem para a vida do dia a dia, de arrumar a cama, escolher a roupa de acordo com a temperatura, arrumar seu café, lavar a louça, entre outras. Também aprendeu a fazer compras, pequenos objetos, aprendendo assim a dizer “não”, pois até então ele achava o que tinha que aceitar o que os outros diziam. Realizamos atividades de ir a lotérica pagar pequenas contas para a mãe, o que exigiu dele aprender a observar as regras da fila, verificar se o troco estava correto, usando a sua calculadora, desenvolvendo assim uma autonomia, até então desconhecida.

Hoje, após 5 anos de acompanhamento, o menino hoje um adulto, está tocando bateria em uma banda de música municipal, tem autonomia para ir e vir de seus compromissos, concluiu o ensino médio através do supletivo e está trabalhando em um supermercado. Lendo, escrevendo e vivendo.

APRENDIZAGENS E CRENÇAS QUE ACREDITO COMO PSICOPEDAGOGA.


No decorrer de minha prática com os pacientes sempre busquei atividades que permitissem que eles, independentemente da idade encontrassem na clínica, em primeiro lugar, um espaço para falar, sorrir competir, criar e se sentir seguro para acertar e errar.

As atividades sempre foram as mais variadas, desde ajudar a fazer uma salada de fruta (trabalhando assim o olfato e o paladar) até a construção de abajur com palitos, instalando eletricidade e gerando a alfabetização (neste caso adulto) a partir da necessidade da construção.

Acredito que o primeiro objetivo ao receber um paciente éter claro o que é aprendizagem e ter clareza que todas são importantes, mas que existem as prioritárias, que no caso do autismo é aprender a olhar nos olhos, permitir um toque ou um afago.

Qual o instrumento? Atualmente, pelo fato de eu ter a clínica em um sítio, o instrumento é a natureza, o balanço, as galinhas, os patos, dar comida para os peixes, escrever letras na areia, etc, para então, só mais tarde trabalhar atividades pedagógicas.



NÃO SIGNIFICA APENAS FAZER DIFERENTE,MAS FAZER COM A ALMA E COM EMPATIA.





















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